10 Escravos que se tornaram santos católicos
Desde o início, cristianismo e escravidão tiveram uma
crítica e complicada relação. Muitos dos primeiros cristãos dos primeiros
séculos da Igreja eram escravos, incluindo bispos, mártires, evangelistas e até
papas. Celso, um pagão do século II, até ridicularizou o cristianismo afirmando
ser uma religião adequada apenas para mulheres e escravos.
Ao longo da história, os cristãos
por vezes configuravam-se como cúmplices da escravidão, que por hora se
opuseram contra ela lutando contra a mesma. A vida desses escravos que se
tornaram santos católicos mostra o quão complexa e sutil essa história
realmente é.
1. Pierre Toussaint
Nascido em em 1766 no Haiti como
escravo doméstico da aristocrática família francesa Berard. O Venerável Pierre
Toussaint aos 21 anos, testemunhou a revolta de escravos no Haiti, que se vinha
ser a futura Revolução Haitiana. Diante do contexto a família Berard fugiu do
país, levando com eles Toussaint para Nova York.
Toussaint permaneceu com os Berard
em Nova York mesmo após eles perderem toda sua fortuna. Lá tornou-se um famoso
cabeleireiro desenhando penteados fabulosos para a elite Nova-iorquina.
Tornou-se rico o suficiente para se sustentar, comprar a liberdade de outros
escravos e até mesmo sustentar a família Berard.
Há quem diga que Toussaint é um
santo muito controverso. Considerado um herói para os católicos por sua fé ele
era um crente devoto que assistia à missa diária na Catedral de São Patrício
por 66 anos. Toussaint faleceu em 1853.
2. São Patrício
São Patrício talvez seja o mais
famoso escravo canonizado. Escravizado pelos irlandeses, Patrick tornou-se o
bispo de Armagh cidade local e hoje é creditado com a conversão do povo
irlandês.
Vindo de uma família cristã
romano-britânica, Patrick nunca teve muito tempo para a religião de seus pais.
Aos 16 anos, foi capturado comerciantes de escravos irlandeses que levaram para
o país. Lá trabalhou como pastor até que finalmente conseguiu escapar. Quando
voltou para casa, Patrick decidiu ser padre.
Mais tarde em suas confissões,
Patrick ouviu a voz dos irlandeses chamando-o de volta para evangelizá-los.
Atendendo a vontade do povo irlandês ele converteu as pessoas que lhe
escravizaram na adolescência. Patrick lutou contra a escravidão na Irlanda e
condenou o temível comerciante de escravos Coroticus. Seu dia de festa em 17 de
março, ainda é comemorado em todo o mundo.
3. Santa Serápia de Roma
Serápia foi era uma escrava cristã
que viveu durante o século II. Os relatos sobre sua vida foram escritos anos
mais tarde com detalhes difíceis de serem explicados.
A história mais aceita, é que
Serápia nasceu em Antioquia no final do primeiro século e logo fugiu para Roma
junto com seus pais. Após ter se vendido como escrava em entregado todos os
seus bens, ela conheceu Sabina, uma nobre romana a quem Serápia converteu ao
cristianismo.
Como naquele tempo o cristianismo
era visto como um ato ilegal, Serapia foi julgada e condenada à morte. Um ano
após a sua morte, Sabina também foi condenada a morte por ser cristã logo
Serápia e Sabina foram enterradas juntas. Uma igreja foi construída sobre o
local de seu martírio e dedicada aos santos Sabina e Serapina.
4. Santa Josefina Bakhita
Por volta de 1869 em Darfur no
Sudão, nascia Santa Josefina Bakhita, uma mulher que foi capturada pelos
comerciantes de escravos aos nove anos de idade e vendida por inúmeras vezes
dentro do mercado negreiro do Sudão. Durante a servidão, Bakhita foi
brutalmente espancada pela família que lhe escravizava durante todos os dias.
Quando foi comprada pelo advogado
italiano Callisto Legnani, uma grande agitação interna dentro do Sudão forçou
Legnani a fugir de volta para a Itália levando Josephine junto com ele. Quando
eles chegaram à Itália em 1884, ela foi “vendida” para uma amiga da família,
Turina Michieli, de Veneza. Lá em Veneza, ela ficou com as irmãs Cannossian
durante alguns meses.
Quando ela voltou, Bakhita se
recusou a deixar o convento. Ela descreveu a descoberta do amor de Deus entre
as irmãs. Eventualmente, um tribunal italiano declarou que nunca havia sido
legalmente escravizada pela lei inglesa, italiana ou etíope. Bakhita estava
livre. Ela foi batizada pelo Patriarca de Veneza, o futuro Papa Pio X, e
juntou-se às Irmãs Cannossianas como Irmã Josephine Fortuna. Ela morreu em 1947
e foi canonizada em 2000.
5. Santo Isaac Jogues
Santo Isaac Jogues era um padre e
missionário francês que nasceu em 1607, quando jovem, ele se juntou aos
jesuítas cheio de zelo pelas missões. Em 1636, Isaac viajou para o Novo Mundo e
foi designado para as Primeiras Nações dos Iroquois.
Em 1642, Jogues estava viajando
com um grupo de Christian Hurons quando eles foram atacados pelos membros da
Nação Mohawk. Ele foi capturado e torturado, espancado além de ter seus
polegares arrancados. Por dois anos, ele foi mantido em cativeiro, apenas capaz
de coletar gravetos porque seu corpo estava muito quebrado.
Quando finalmente, conseguiu
escapar logo ele voltou para a França. Lá, o papa deu a ele dispensação
especial para celebrar a missa sem o polegar ou o indicador. Depois de alguns
anos, Jogues implorou para retornar à Nova França. O relacionamento dos
jesuítas com os iroqueses só piorou e eles foram responsabilizados por trazer
doenças, fome e seca. Em 1646, Jogues foi novamente atacado e morto com um
machado de guerra na cabeça em 18 de outubro.
6. Santos Exuperius e Zoe da
Panfília
Outro mártir da igreja primitiva de
que pouco conhecemos é St Exuperius. Ele, sua esposa, Zoe, e seus dois filhos,
Cyriacus e Theodulus, foram martirizados em meados do século II.
O que os torna notáveis é que
eles eram uma família de escravos que foram martirizados. Seu mestre ordenou que
participassem de rituais pagãos, mas todos recusaram. Em retaliação, eles foram
queimados até a morte em aproximadamente 140 dC. O seu dia da festa é
comemorado no dia 2 de maio.
7. Santo Raymond Nonnatus
Saint Raymond Nonnatus era um
santo catalão nascido em 1204. Ele foi apelidado de Nonnatus que quer dizer:
("não nascido" em latim) simplesmente porque Raymond nasceu de uma
cesariana. Ele se juntou à Ordem Mercedarian, uma ordem religiosa fundada em
1218, com a intenção especial de resgatar cristãos que haviam sido capturados e
escravizados por piratas mouros no Mediterrâneo.
Raymond também viajou para o norte
da África, onde resgatou cristãos escravizados com os fundos da Ordem. Quando
ficou sem dinheiro, o mesmo se ofereceu em troca. Nonnatus continuou a pregar
como cativo e enfureceu seus captores. Como uma forma de tortura, seus lábios
estavam queimados com um ferro quente e sua boca estava trancada. Ele acabou
sendo resgatado, mas morreu pouco depois em 1240.
8. São Onésimo
Santo Onésimo é o único ex-escravo
que aparece no Novo Testamento. Ele era escravo de Filêmon, mas fugiu dele,
tornou-se cristão e começou a servir o apóstolo Paulo. Paulo escreveu uma carta
curta a seu mestre Filemon, implorando para que ele recebesse Onésimo de volta
sem punição e até para libertá-lo, reconhecendo-o como um irmão em Cristo.
Embora não haja evidências firmes
do que aconteceu com Onésimo após a carta, parece que ele estava livre. Ele
pode ser o mesmo Onésimo que acompanhou Paulo em sua jornada missionária e a
quem Paulo chamou: "Onésimo, nosso fiel e querido irmão"
Em um relato tradicional, Onésimo
foi ordenado e se tornou o bispo de Éfeso.
9. Papa São Calixto
O Papa São Calixto era um escravo
romano nascido no final do século II. Denunciado como cristão, ele foi
condenado a trabalhos forçados nas minas da Sardenha. Após sua libertação, ele
voltou a Roma e foi ordenado diácono pelo papa Zephrynius. Em 217, ele o
sucedeu como bispo de Roma e papa.
Durante seu reinado como papa, a
Igreja testemunhou seu primeiro antipapa quando Hipólito formou sua própria
comunidade cristã contra Calixto. O próprio Calixto, acreditava que ele era
muito tolerante com os pecadores.
Uma tradição afirma que ele foi
morto e depois jogado em um poço. Seu corpo foi resgatado e hoje as relíquias
do papa santo estão localizadas em Santa Maria em Trastevere, em Roma.
10. Beato Francisco de Paula
Victor
O Beato Francisco de Paula Victor
nasceu em 1827 como escravo no Brasil. Ele treinou como alfaiate, mas sempre
sonhou em ser padre. Foi concedida permissão especial a Victor para que ele
pudesse frequentar o seminário, mas lá ele enfrentou muita discriminação e
perseguição. Na sua primeira paróquia como sacerdote ordenado, seus paroquianos
recusaram-se a receber a Sagrada Comunhão porque ele era um escravo negro.
Quando o Brasil finalmente aboliu
a escravidão em 1888, O P. Victor morreu em 1905, amplamente lamentado por sua
comunidade. Ele foi beatificado em 2015 e é o primeiro ex-padre de escravos a
caminho da canonização.